Os resíduos plásticos representam, aproximadamente, 60% a 70% da rentabilidade financeira das cooperativas de material reciclável

No dia 17 de maio, comemora-se o Dia Mundial da Reciclagem, uma data dedicada a conscientizar a população sobre a importância de transformar resíduos em novas matérias-primas. No Brasil, a reciclagem mecânica de plástico pós-consumo alcançou a marca de 25,6% em 2022, representando o maior crescimento desde 2018, conforme revelado pelo Índice de Reciclagem Mecânica de Plásticos Pós-consumo no Brasil, divulgado pelo PICPlast (Plano de Incentivo à Cadeia do Plástico), uma iniciativa promovida pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST).

Na busca por um meio ambiente mais sustentável, a indústria do plástico enxerga a reciclagem como uma das principais soluções. Neste contexto, a ABIPLAST reforça a importância da atuação dos catadores e das cooperativas de materiais recicláveis para promover a economia circular.

O presidente da IAWP (Aliança Internacional dos Catadores de Materiais Recicláveis) e Secretário de Articulação Internacional da UniCatadores, Severino Lima Júnior, destaca a importância das atividades dos catadores. “Se não fossem esses profissionais, os oceanos já estariam todos poluídos e os aterros, saturados. Os catadores são protagonistas e conhecem suas responsabilidades. A preocupação com a reciclagem do plástico é grande e nas reuniões do Tratado Contra a Poluição do Plástico, discutimos muito sobre a reciclabilidade e a importância desses materiais retornarem ao ciclo de vida normal, promovendo assim a economia circular”.

No entanto, Severino expressa preocupação com a disseminação de informações de ONGs que sugerem que a reciclagem não passa de uma solução falsa. “Estas afirmações desconsideram, desvalorizam e subestimam o trabalho árduo dos mais de 40 milhões de catadores ao redor do mundo. É lamentável ver uma discussão que só serve para denegrir a histórica contribuição da nossa categoria para a economia circular de resíduos, especialmente no que diz respeito aos plásticos”, ressalta.

O representante dos catadores também critica matérias e pesquisas publicadas recentemente que não representam adequadamente a realidade da reciclagem. “De fato, nunca vi uma pesquisa que coletasse informações de catadores de rua ou dos lixões. Querem estabelecer pesquisas que não refletem a realidade do Brasil, nem da América Latina e continentes como África e Ásia-Pacífico. No Brasil, o mercado de sucata de plásticos é extremamente desafiador. Como catador de base, questiono qualquer dado ou pesquisa mercadológica gerada em outros países que não leve em conta a contribuição dos catadores de recicláveis e as particularidades geográficas que influenciam suas atividades”.

De acordo com Lucas Silva, responsável pelas relações institucionais da Cooperlínia (Cooperativa de Profissionais da Área de Reciclagem do Brasil), os catadores, tanto individualmente quanto por meio de cooperativas, são responsáveis por cerca de 90% de todo o material reciclável coletado no Brasil, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Este número por si só ressalta a importância crucial dos catadores no sistema de reciclagem nacional. É por meio do trabalho dos catadores que esse volume é alcançado. Eles são a linha de frente na coleta e separação de materiais recicláveis, especialmente plásticos, garantindo que esses itens sejam encaminhados para os processos corretos de reciclagem, contribuindo significativamente para a sustentabilidade ambiental”.

Lucas ressalta ainda que o plástico representa cerca de 20% do volume físico destinado para a reciclagem, mas contribui com aproximadamente 60% a 70% da rentabilidade financeira. “Isso evidencia o alto potencial de rentabilidade do plástico para as cooperativas. Se houver uma homogeneização dos tipos de plásticos recicláveis, poderemos aumentar a quantidade de material destinado à reciclagem, melhorando os resultados financeiros das cooperativas e, por consequência, criando mais empregos e gerando renda para milhares de famílias, fortalecendo a economia circular e promovendo a sustentabilidade econômica e ambiental em nosso país”, conclui o colaborador da Cooperlínia.

Em 2022, foram gerados 14,7 mil empregos pela indústria recicladora com mais de 1,3 mil empresas. A indústria de reciclagem do plástico obteve mais de R$ 4,7 bilhões de faturamento, de acordo com a Pesquisa de Reciclagem PICPlast/MaxiQuim.

Iniciativas da indústria em prol da reciclagem

Segundo o Atlas Brasileiro de Reciclagem 2022, publicado pela Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis, apenas 23% dos municípios brasileiros têm algum tipo de programa de coleta seletiva de resíduos, um índice significativamente baixo considerando a obrigatoriedade estabelecida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada há mais de uma década.

Conforme indicado pelos dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2021), os maiores percentuais de municípios com programas de coleta seletiva implementados estão nas regiões Sul e Sudeste, as mais desenvolvidas economicamente.

Com base nesses dados, a ABIPLAST tem se empenhado em impulsionar a indústria da reciclagem, desenvolvendo iniciativas junto a Rede pela Circularidade do Plástico (REDE), que atualmente conta com a participação de mais de 70 empresas de todos os segmentos da cadeia produtiva do plástico: desde petroquímicas, químicas, aditivos e distribuidores, até transformadores, indústrias de bens de consumo, varejo, cooperativas, gestores de resíduos, recicladores e consumidores.

As atividades de coleta, separação e comercialização de materiais recicláveis envolvem diversas etapas que requerem mão de obra qualificada. Além disso, a atividade de reciclagem contribui para fortalecer a economia local e promover a inclusão social. Nesse sentido, o Circularize, projeto desenvolvido pela Rede pela Circularidade do Plástico, visa estreitar os laços comerciais entre cooperativas e recicladoras de plástico. Seu portal disponibiliza guias técnicos direcionados aos catadores de materiais recicláveis para otimizar a entrega de matéria-prima, garantindo assim maior eficiência nesse processo e melhoria da qualidade dos resíduos. Além disso, o projeto busca padronizar a sucata de plástico para agregar valor, facilitar sua comercialização e promover uma renda mais digna para os catadores, ao mesmo tempo em que fortalece a conscientização ambiental.

Ao longo dos anos, a REDE entregou à sociedade diversos projetos significativos, como o RETORNA, ferramenta online e gratuita que avalia o índice de reciclabilidade de embalagens plásticas. Esta plataforma auxilia as empresas produtoras de embalagens a desenvolverem opções mais recicláveis, levando em conta as complexidades do cenário brasileiro e as particularidades de cada região do país. Em 2022, foi realizado um total de 269 análises, com 197 usuários utilizando a plataforma, representando 147 empresas. Já em 2023, esses números aumentaram significativamente. Foram realizadas 504 análises, contando com a participação de 321 usuários cadastrados, representando agora 223 empresas. Isso representa um aumento de 87%, 32% e 21% em cada categoria, respectivamente.

“Ao promover a destinação adequada dos resíduos, prolongar o ciclo de vida dos produtos e reduzir a necessidade de extração de recursos naturais, o processo da reciclagem contribui significativamente para a preservação do meio ambiente e para a melhoria da qualidade de vida da sociedade, além da geração de emprego e renda”, comenta Paulo Teixeira, presidente-executivo da ABIPLAST.

Sobre a ABIPLAST

A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) representa o setor de transformados plásticos e reciclagem desde 1967, atuando para aumentar a competitividade da indústria. Para isso, realiza ações que promovem novas tecnologias, novos processos, pesquisa de produtos com foco na sustentabilidade, entre outras. Há anos, a concreta implementação da economia circular na cadeia produtiva está no topo das prioridades da ABIPLAST. A entidade, referência no tema, desenvolve juntamente com seus associados ações que preparem os setores para a atual realidade que se delineia, avançando em direção a resultados efetivos. A ABIPLAST representa atualmente cerca de 12,6 mil empresas que empregam cerca de 360 mil pessoas.