A Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) acredita que a melhor forma de lidar com a gestão de resíduos sólidos é por meio de uma visão sistêmica e de um diálogo propositivo, claro e objetivo, debatendo o consumo consciente e a economia circular, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), responsabilizando todos os atores envolvidos: Poder Público, indústria e sociedade.
Nesse sentido, foi com surpresa que a entidade e seus associados leram a reportagem “O verão está mais sustentável”, assinado por Marina Pagno na edição de sábado e domingo últimos (25 e 26/01/2020), do jornal Zero Hora.
A ABIPLAST considera que os movimentos para banimento de produtos plásticos não se mostram a melhor alternativa para resolver a presença de resíduos nos mares e na natureza em geral. A própria ONU Meio Ambiente reporta que é importante e necessário mapear e estudar diversos passos antes de haver a implementação de uma política de proibição de produtos.
Na matéria, o que mais chama atenção é a declaração do professor Ignácio Benites Moreno, da UFRGS, de que “o plástico é um câncer”, com a recomendação de que “não deveríamos usar nada de plástico”.
Material transversal, o plástico é utilizado em mais de 95% da matriz industrial, sendo um indutor de inovações que impulsionam todas as indústrias – desde a de utilidades domésticas até a agroespacial e a médico-hospitalar.
Nesta última, o plástico está presente desde a medicação com cápsulas de polímeros, que se decompõem gradualmente para liberação controlada do conteúdo, até na alta tecnologia utilizada na medicina diagnóstica e no tratamento médico.
Para a segurança hospitalar, o plástico é fundamental e a utilização de produtos descartáveis – como seringas, cateteres, bolsas de sangue, luvas e não-tecido (aventais, toucas, máscaras e proteção de sapato) – reduzem o risco de contaminação.
A inovação e a evolução da medicina também contam com a versatilidade de aplicação e as propriedades do material, como no caso da impressão 3D de órgãos.
O plástico está ainda nas membranas plásticas semipermeáveis dos aparelhos de hemodiálises, nas próteses e lentes corretivas, nos aparelhos auditivos e nas resinas odontológicas, por exemplo. Logo, em vez de dizer que “o plástico é um câncer”, é possível afirmar que “o plástico é essencial para a cura do câncer” e que, graças a produtos plásticos, inúmeras vidas foram e são poupadas diariamente.
Esses são apenas alguns exemplos de soluções plásticas, revelando suas diversas aplicações e benefícios, advindos de qualidades únicas como: leveza; versatilidade; resistência mecânica e flexibilidade; acessibilidade; assepsia e possibilidade de esterilização; atoxicidade e durabilidade; além de estabilidade física, química e biológica, a qual confere compatibilidade com tecidos e órgãos humanos.
Outra característica fundamental do plástico é sua reciclabilidade. Diferente do lixo que “sai da nossa casa e vai para o lixão”, como posto pelo professor Moreno, o fato de ser reciclável possibilita que o produto plástico seja reinserido dentro da cadeia e retorne para o consumidor como um novo produto, inúmeras vezes.
Mesmo diante dessa realidade, diversos projetos de lei referentes à restrição ao uso do plástico têm avançado, sem que estudos de impacto sejam devidamente realizados. Já as alternativas ao material têm gerado resultados indesejáveis.
O Polipapel, uma mistura de plástico e papel, é um material sem reciclabilidade e biodegradabilidade. O Inox gera impacto na extração do aço e na lavagem do produto. O Vidro também gera impacto na lavagem e problemas na logística para reciclagem. Já os plásticos biodegradáveis exigem ambientes adequados para a degradação e não há usinas de compostagem em escala industrial no Brasil, o que pode resultar na emissão desnecessária de gases de efeito estufa.
A solução para a presença de resíduos no meio ambiente (não somente plástico) passa por diversos fatores como a melhor gestão de resíduos, acesso a saneamento básico, disponibilidade de coleta seletiva e de resíduos plásticos para reciclagem, revisão da estrutura tributária da indústria de reciclagem, redesign de produtos, novos modelos de negócios econômico, social e ambientalmente viáveis e consumo consciente.
A ABIPLAST trabalha diariamente para levar esse debate sistêmico a todos os envolvidos a fim de construir soluções conjuntas que, de fato, gerem resultados estruturantes e positivos. A indústria tem conseguido avanços, como pode ser observado no documento “Economia Circular: da Teoria à Prática”, onde as principais ações em que a ABIPLAST e o setor estão envolvidos são apresentadas.
Para ilustrar, dois cases de destaque na indústria – que contam com o apoio da ABIPLAST – são os projetos Tampinha Legal e Sementes do Plástico. O primeiro já destinou R$ 600 mil para mais de 400 entidades assistenciais cadastradas, incluindo entidades como a Liga Feminina de Combate ao Câncer de Tramandaí. O valor foi obtido da reciclagem de 320 toneladas de tampas plásticas, recolhidas em cerca de dois mil pontos de coletas espalhados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Alagoas, Pernambuco, Brasília e Goiás.
Já o Sementes do Plástico incentiva a prática da economia circular e da logística reversa pelo engajamento da sociedade por meio de três causas: animal (parceria com a ONG Rio Eco Pets), de acessibilidade (com o projeto Rodando com Tampinhas) e educacional (com o projeto-piloto da Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro de nome Escolas Sustentáveis). Tendo um ano de operação, o projeto chegou à marca de 5 milhões de copos descartáveis reciclados, 30 milhões de tampinhas recicladas e mais de 4 milhões de embalagens plásticas variadas recicladas.
Podemos ver que soluções coletivas existem. Apenas precisamos abordar questões mais profundas em vez de promover discussões genéricas que coloquem o plástico como um material contrário ao meio ambiente, à inovação e ao desenvolvimento da sociedade. A ABIPLAST segue aberta ao diálogo e à construção dessas soluções.